13 – Mudança de foco: da justiça retributiva para a justiça restaurativa
Você já reparou que crianças e adolescentes que se envolvem frequentemente em problemas de convivência acabam não se importando com as medidas de punição, como repreensão, suspensão ou convocação dos pais/responsáveis?
Do ponto de vista da construção das bases para a cooperação e para o julgamento moral, vários estudos apontam que a aplicação de punições frequentes aumenta o isolamento dos alunos que são alvos delas e favorecem um raciocínio do tipo “nós contra eles”, em vez de possibilitar o comprometimento com as normas para o bem-estar comum e a cooperação.
Para fazer frente a isso, é necessário uma mudança de cultura, passando da justiça retributiva – pautada em punições e premiações – para uma justiça restaurativa – pautada na cooperação e no comprometimento entre pares.
Peta Blood, Margaret Thorsborne e Brenda Morrison pesquisaram essa mudança cultural em escolas e organizaram dois quadros comparativos, compartilhados a seguir, destacando pontos-chave dessa transformação.
Uma distinção que as autoras fazem é quanto às perguntas centrais que organizam os processos de justiça na cultura tradicional e na cultura restaurativa.
Trata-se de uma mudança de paradigma, que convida os alunos à sensibilização, a se comprometer com os pares, a refletir sobre o dano infligido e a se responsabilizar.
Toda a intervenção é feita para manter o aluno na relação com os pares, em vez de isolá-lo. Corresponsabilização e pertencimento andam lado a lado.
Os círculos restaurativos são essenciais para dar fluxo, sentido e coerência a essa mudança de mentalidade e apoiam a construção dessa nova cultura escolar.
Ao colocar o foco no pertencimento, a escola também muda sua forma de intervir no momento que as regras são quebradas.
[Os processos de justiça restaurativa agem] por meio da construção de uma comunidade de cuidados em torno dos indivíduos envolvidos, ao mesmo tempo em que fortalecem a responsabilização e busca da reparação. Isso envolve a construção de um entendimento coletivo sobre o que aconteceu, como as pessoas foram afetadas, como se pode reparar o dano causado e quais as maneiras de evitar a probabilidade de novos comportamentos prejudiciais.
Peta Blood, Margaret Thorsborne e Brenda Morrison
Que tal fazer um exercício simples, de reflexão?
Feche os olhos e procure se lembrar de um incidente em que você vivenciou uma transgressão realizada por um aluno ou um colega.
Qual caminho foi tomado na resolução desse incidente: foi uma abordagem retributiva ou restaurativa? Qual é a abordagem mais comum em sua escola?