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COMO REDUZIR CONFLITOS NA ESCOLA

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  1. Módulo 1 - Quais são os principais problemas de convivência que você pode encontrar no cotidiano escolar?
    11 Atividades
  2. Módulo 2 – Ferramentas para intervir em problemas de convivência: círculos restaurativos, assembleias e roda de conversa
    9 Atividades
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No percurso que trilhamos até aqui, você pôde conhecer mais sobre os diferentes problemas de convivência e seu encaminhamento na escola. Além disso, você foi convidado a aprofundar seu olhar sobre os círculos restaurativos, uma ferramenta importante tanto para intervir em situações de  problemas de convivência como para construir um clima escolar que evite o surgimento desses problemas.

O convite, agora, é utilizar esse percurso reflexivo como base para planejar uma proposta de intervenção em uma situação de problema de convivência.

No trecho a seguir, retirado do livro de Marianella Sclavi (2000), a aluna Manuela compartilha com a autora o que a motivou ter um ato de violência contra uma colega.

Nossa proposta é que você leia o relato e anote ideias que poderiam apoiar uma intervenção educativa nessa situação. 

Cito como exemplo a conversa que tive, em preparação para a mediação, com Manuela, a jovem que já bateu numa menina da sua idade e que ameaça bater numa outra. Durante a conversa aplico a escuta ativa, por isso estou disposta a trazer à tona suas emoções, a entendê-la e não a “ensiná-la” a se comportar, o que virá em outras ocasiões.

Eu: “Me falaram que você bateu em uma menina e que ameaçou outra.”

Manuela: “Não era só eu que batia (indica uma amiga que está com ela e quem a acompanhou para a entrevista), ela estava pedindo. Eu disse, o que você se importa com as coisas dos outros? Ela se envolveu em coisas que não lhe diziam respeito, tudo porque queria defender Agnes que é uma ótima p… e eu venci ela porque não deixo passar certas coisas, sou sincera e imediata…”. O tom é muito animado, ela está visivelmente animada. Durante a conversa, ela demonstra que considera sua qualidade de “sincera” e de sê-lo também e principalmente quando “lidera”. Ela não esconde o que sente como os outros fazem!

Eu: “Se bem entendi, você bateu em uma menina e ameaçou outra que ela estava defendendo. Vamos pular por um momento sobre o fato em si, que eu desaprovo, mas por que você está tão brava com Agnes? O quê ela fez pra você?”

Manuela: “Como o que ela fez comigo?! Ela flertou com o namorado da Claudia, que é uma amiga muito querida minha, e quando você faz isso com uma amiga tem que fazer ela pagar… você me pergunta o que eu sinto? Sinto muita raiva até querer gritar e só vou me acalmar quando bater nelas!”

Eu: “Falei com a Agnes e ela dá outra versão da história, você quer ouvir?”

Manuela: “Pode dar outras versões, mas eu sei como foi! Mas você sabe como ela me chamou? Você sabe? Ela me chamou de bastarda! Agora que tive alguma prova… que meu pai…” (eu não esperava isso, mas tomo cuidado para não fazer perguntas).

Eu: “Sim, bastarda não é um termo bonito, mas agora é usado com muita leveza e frequência, não tem mais seu significado original, na verdade é muito menos pesado que os outros.”

A essa altura, Manuela começa a chorar e vai continuar soluçando e assoando o nariz durante todo o tempo da entrevista, continuando com entusiasmo a história.

Manuela: “Sabe, eu achava que meu pai não me amava, ao invés disso ele provou o contrário para mim ficando perto de mim quando este fato gravíssimo me aconteceu e que agora estou contando. Não sou bastarda, longe disso, tenho pais que pensam em mim.”

Manuela vai continuar na narração de seus acontecimentos pessoais para me fazer entender que o episódio com Agnes foi a gota d’água que “quebrou as costas do camelo”, quase um pretexto para desabafar uma amargura profunda que tinha raízes em outros lugares.

Depois de ler o relato, registre os sentimentos e as ideias que a leitura despertou em você e pare por um instante para refletir sobre isso.

Em seguida, imagine que você está diante de uma situação como essa na escola em que trabalha: quais intervenções poderiam ser feitas em uma abordagem restaurativa, constituindo uma cultura de paz na escola?

Para saber mais, você pode consultar:

  • MOURA, Maria Suzana de Souza. A arte de escutar: nuances de um campo de práticas e de conhecimento. Revista Terceiro Incluído, v. 6, n. 1, 2016. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teri/article/view/40739. Acesso em: 19 fev. 2023.