5 – Diário reflexivo: ferramenta de estudo dos problemas de convivência
O diário reflexivo é uma importante ferramenta de estudo porque, por meio da narrativa, potencializamos a experiência pessoal e profissional, além do desenvolvimento da responsabilidade social e dos comportamentos orientados por princípios éticos.
A narrativa evidencia a combinação de conhecimentos, capacidades e atitudes. Nesse sentido, o diário reflexivo depende, entre outros elementos, da análise e da discussão de casos.
Para fazer um diário reflexivo no contexto do cotidiano escolar, considere os passos descritos a seguir.
A escrita no diário começa dando destaque a uma situação marcante que vivemos ou de que tivemos notícia. Por isso, o primeiro passo é apresentar essa situação sem filtros e apontar de que forma ela nos toca e que sentimentos e ideias ela nos desperta.
A escrita continua com nossa reflexão sobre essa situação: quais são os riscos que se apresentam; quais são os impactos para os envolvidos e para a turma no que se refere à qualidade das relações e às aprendizagens; quais são os desafios que se apresentam para o professor e para a própria gestão escolar etc.
Você vai observar que algumas dessas questões se destacam em sua reflexão. Vale a pena deter-se mais nelas. Aqui pode ser interessante fazer relação com alguns autores ou textos que são referência para você quando se depara com esse tipo de situação. Esse diálogo com a teoria pode ajudar a iluminar novos caminhos e formas de reequacionar as situações vividas.
Para finalizar essa escrita no diário, vale se perguntar sobre possíveis encaminhamentos para superar os desafios vividos no cotidiano escolar e aprender com eles, criando práticas que colaborem com melhores relações entre todos.
Agora, que tal exercitar essa ferramenta de estudo?
Para isso, leia os dois relatos a seguir, escolha aquele que foi mais impactante para você e, a partir dele, faça um diário reflexivo.
RELATO 1
Trecho do capítulo “Escola é lugar de agressão?”, do livro Desafios reais do cotidiano escolar brasileiro, coordenado por Katherine K. Merseth.
A aluna Larissa do 8º ano entrou na sala da coordenadora pedagógica correndo e com as duas mãos pressionando as narinas que sangravam. A coordenadora Luzia prontamente se levantou para acolher a estudante, como sempre fazia em uma emergência ou necessidade. […] Larissa era uma menina tímida, que tinha dirigido a palavra poucas vezes à Luzia. Porém, ao caminharem em direção ao banheiro que ficava bastante próximo, conversaram bastante sobre o ocorrido. Larissa contou que um colega da mesma sala lhe dera um soco no nariz de maneira inesperada e descabida, só porque ela tinha pedido para ele parar de gritar e pular pela sala, pois queria fazer uma atividade com mais concentração, e isso estava difícil. Já havia muito barulho na classe e esse colega estava tumultuando o ambiente ainda mais.
Fonte: MERSETH, Katherine K. (coord.). Desafios reais do cotidiano escolar brasileiro: 22 dilemas vividos por diretores, coordenadores e professores em escolas de todo o Brasil. São Paulo: Moderna, 2018.
RELATO 2
Trecho do capítulo “Relações na escola, a escola de relações”, do livro La scuola e l’arte di ascoltare. Gli ingredienti delle scuole felici, de Marianella Sclavi e Gabriella Giornelli (tradução para fins didáticos).
Tento entender o que aconteceu. Não é fácil.
Ao chegar à escola, vejo que um menino está andando de um lado para o outro na frente do prédio. Descubro mais tarde que também está envolvido na confusão: ele está lá para proteger “sua namorada” de qualquer ataque.
Entendi, portanto, que o fato envolve duas meninas da mesma turma e que há uma história de amor no meio, mas que a aluna que sofreu a agressão física é de outra escola.
Aparentemente toda a turma está dividida em apoiadores e opositores, e ameaças ou outras manifestações acabaram isolando uma das duas meninas, a Agnes, tida como a principal culpada, responsável, segundo os demais, por “flertar” com o menino (o que está de fora da escola) que já era namorado da Claudia. A agressora não é a Claudia, mas sua amiga mais próxima chamada Manuela.
O evento não é nada claro, e a dinâmica do que aconteceu fica ainda mais confusa quando ouço as duas versões conflitantes depois de ter falado separadamente com as duas protagonistas.
Decido então que o fato de não entender nada é o mal menor, mas que, se quero acalmar os ânimos, devo agir de modo rápido e imediatamente. Eu propus organizar uma mediação criativa entre todas as partes envolvidas, a qual foi realizada com sucesso.
No entanto, o que quero destacar aqui é como certos desenvolvimentos na história são tão emocionalmente envolventes que envolvem e bloqueiam ações em outros campos e que a incapacidade de conter as emoções vivenciadas desencadeia uma agressão quase raivosa. A isso, somam-se a eventos pessoais, frustrações ou dores que não são fáceis de aceitar e que os alunos não são educados para entender e apoiar.
[…] Este não é um caso isolado, mas a ponta de um fenômeno muito difundido que a escola não tem dado muita importância: a incapacidade de muitos jovens de compreender suas emoções, de saber ler as dos outros, de se colocar no lugar de quem está acusando, zombando ou batendo.
Fonte: SCLAVI, Marianella; GIORNELLI, Gabriella. La scuola e l’arte di ascoltare. Gli ingredienti delle scuole felici. Milano: Feltrinelli Editore, 2014.
Agora que você leu os dois relatos, escolha um deles e inicie seu diário reflexivo, apresentando o relato brevemente e compartilhando os sentimentos e as ideias que essa situação provocou em você.
Depois, siga com os passos propostos, aprofundando-se em seu percurso de reflexão. O texto que estudamos na atividade 4 (O desafio da convivência) pode ser um apoio muito importante nesse caminho de escrita.