Agora que já refletimos sobre o papel do pensar, do sentir e do querer, que tal praticar?
Comece identificando um problema que você viveu ou está vivendo, um desafio real da sua vida.
Vamos explorar esse problema em um exercício de 5 passos que vai te ajudar a ouvir três vozes: o pensar, o sentir e o querer.
Faça as anotações em seu diário e tenha em mãos um cronômetro. É importante seguir as orientações de tempo para potencializar o resultado da prática.
- Passo 1 – Marque 2 minutos no cronômetro para registar brevemente, por escrito, o problema que você deseja explorar.
- Passo 2 – Mentalize a questão de forma bem objetiva e entre em contato com o “pensar”, levando o foco da sua atenção para a cabeça. Marque 3 minutos para escutar o que seus pensamentos têm a te dizer. Quais são as principais ideias ou insights que surgem a partir da sua voz da razão? O que seu cérebro, seu lado racional, pensa que você deve fazer? Anote de 1 a 3 ideias no seu diário.
- Passo 3 – Mentalize novamente a questão e, agora, entre em contato com o “sentir”, levando o foco da sua atenção para a região cardíaca. Marque 3 minutos para escutar o que o seu coração têm a te dizer. Se você silenciasse por um momento o que diz sua cabeça, e pudesse ouvir apenas o seu coração, o que faria? Quais são as principais emoções ou sentimentos que surgem a partir da sua voz do coração? O que seu coração sente que você deve fazer? Quais são as intuições que surgem? Anote de 1 a 3 intuições no seu diário.
- Passo 4 – Mentalize novamente a questão e, dessa vez, entre em contato com o “querer”, levando o foco de sua atenção para o seu abdômen. Marque 3 minutos para escutar o que suas sensações têm a te dizer. Quais são as principais sensações que surgem a partir da sua voz do querer? O que o seu abdômen mostra que você deve fazer? Quais são os instintos que surgem, as vontades, os desejos? Anote de 1 a 3 sensações no seu diário.
- Passo 5 – Você vai perceber que raramente pensar, sentir e querer darão a mesma resposta para um mesmo problema. Quando estamos em situações de indecisão (sair ou não de um emprego, terminar ou não um relacionamento, contar ou não um segredo), cada um desses centros dá respostas distintas ao problema e muitas vezes não conseguimos harmonizá-las, integrá-las. Por isso, o último passo do exercício é reservar 3 minutos para buscar três ações práticas que poderiam te ajudar a resolver seu problema. Lembre-se de escolher atitudes que consideram o ponto de vista de cada um dos seus três centros de saberes.
Parece difícil? Quanto mais você fizer este exercício ao se deparar com um dilema interno, melhor conseguirá escutar cada uma das vozes: a do pensar, do sentir e do querer. Desenvolver essa habilidade de escuta também te permitirá sentir mais as coisas, ao invés de atuar somente usando a razão, o que te possibilitará desenvolver mais empatia e conexão com seus alunos, colegas, amigos e familiares. Especialmente quando falamos em seus alunos, lembre-se do quanto a sua capacidade de se conectar com eles os ajudará a aprenderem mais, e melhor.
Vamos ver um exemplo de como esse exercício funcionaria em uma situação prática?
Talvez, sem essa reflexão, a professora da nossa história ouvisse apenas a voz do instinto e cobrasse da direção da escola que escolhesse entre ela e a expulsão do aluno. Isso poderia resultar no seu afastamento da escola ou no afastamento do aluno, que talvez abandonasse os estudos para sempre. Ao ouvir a voz do sentir, ela pode reconhecer e expor sua tristeza mas também conectar-se empaticamente com o aluno. Ouvindo a voz do pensar, decidir por uma ação que mostrasse ao aluno o quanto sua ação foi inadequada (não apenas por ter atrapalhado a aula, mas por ter quebrado um vínculo afetivo ao expor e magoar alguém que genuinamente se preocupava com ele) e, ouvindo a voz do querer, ter a energia necessária para propor uma medida restaurativa que de fato fosse educativa para o aluno e para o grupo.